quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Poesias Interpretadas - Isabelle Amsterdam

Após colher todos os depoimentos, demos início à nova fase de gravação do doc: as poesias interpretadas. Betho escreveu dois livros, O Kamikase Medroso e Aqui Jaz de Baton Lilás. Para o diferencial no documentário, selecionamos quatro de suas poesias para interpretar, e distribui-las durante o filme, para que nenhuma das facetas de Betho fique de fora. Em nossa primeira experiência, recrutamos Isabelle Amsterdam, membro da Artrio e produtora geral do documentário, para interpretar esse personagem carregado de nuances.

Fiz de mim,
uma variedade de coisas.
(com muito brilho, é muito claro)
uma mulher maravilhosa,
solta, orgulhosa, louca,
debochada e destemida.
Metade de mentiras,
outra de serpentinas.
Nos dedos ouro e prata.
Na boca pedaços de ferro e lata.
Sorridente, presunçosa e esculhambada.
Um lado de verdade,
outro de variedades.
As roupas de seda pura,
na cabeça doce frescura.
Parte gostosura,
outra pura gordura.
Nos pés de Pierre Cardin
Entre as pernas pena de assarin.
Rodando gloriosamente a bolsa assim...
Nos motéis e botequins.

[Betho Rocha]

Arrumação
Tá quase lá...
Só mais um pouco de direção de texto
Agora sim. Ação!
Equipe
Italo Rocha - Direção
Felipe Cavalcanti - Fotografia
Bruno Miranda - Fotografia
Talita Oliveira - Fotografia still
Isabelle Amsterdam - Produção geral e atriz da poesia
Daniela Andrade - Produção excutiva e Assistente de direção
Marcelo Zuza - Som direto

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Décimo terceiro dia de gravação

Encerrando o ciclo de gravação de depoimentos, tivemos um último encontro com o artista plástico e professor Dalmir Ferreira. Em linhas gerais, ele traçou um perfil da cena artística na qual Betho estava inserido, nas décadas de 80 e 90 na capital acreana. Em uma época em que as informações trocadas entre as vertentes da arte era determinante, Dalmir expôs o interesse de Betho pelas artes plásticas e pelo cinema. Listou alguns de seus espetáculos que teve a oportunidade de assistir e, fato comum a quase todas as entrevistas, contou histórias divertidas sobre o teatrólogo.
Equipe
Felipe Cavalcanti - Fotografia
Daniela Andrade - Produção executiva e Assistente de direção
Magno Wesley - Som direto
Bruno Miranda - Fotografia
Italo Rocha - Direção
Talita Oliveira - Fotografia still
Isabelle Amsterdam - Produção geral

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Décimo segundo dia de gravação

Nos encontramos com Danilo de S'Acre no Teatro Hélio Melo dia 28 de agosto. O artista plástico falou sobre a época de produção do Teatro Horta, fase da vida em que conheceu Betho. Afirmou que embora trabalhassem em áreas diferentes nos campos das artes, estavam sempre em contato e trocando informações sobre música e cinema. Danilo ressaltou os experimentos em literatura de Betho, Aqui jaz de Batom Lilás e Kamikaze Medroso, e finalizou sua entrevista com um poema em homenagem ao teatrólogo e seu grande amigo.

Equipe
Marcelo Zuza - Som direto
Daniela Andrade - Produção executiva e Assistente de direção
Felipe cavalcanti - Fotografia
Italo Rocha - Direção
Magno Wesley - Assistente de produção
Isabelle Amsterdam - Produção geral
Bruno Miranda - Fotografia
Talita Oliveira - Fotografia still

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Décimo primeiro dia de gravação

No dia 26 de agosto tivemos um encontro com Luís, o Rabicó. Segundo seu depoimento, Rabicó já trabalhava com luz quando conheceu Betho e recebeu dele um convite para trabalhar. Alertado de que ainda estava em fase de aprendizado, Betho disse a ele: "não tem problema, aprenderemos juntos". Participou das montagens mais importantes de Betho, sendo responsável pela luz na premiadíssima Histórias de Quirá. Disse que seu relacionamento com Betho sempre foi amistoso, sem brigas ou grandes desassossegos. Esteve com o teatrólogo no projeto que o Betho desenvolveu em uma escola da região mais periférica da cidade, o 31 Alerta. Segundo Rabicó, o trabalho que realiza ainda nos dias de hoje com iluminação se deve a tudo que aprendeu com Betho Rocha.

Equipe
Isabelle Amsterdam - Produção geral
Marcelo Zuza - Fotografia
Italo Rocha - Direção
Felipe Cavalcanti - Fotografia
Magno Wesley - Som direto
Daniela Andrade - Produção executiva
Talita Oliveira - Fotografia still

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Uma tragédia a la Pasolini

Há doze anos o teatro e a cultura local perdiam Betho Rocha. Foi encontrado morto pela diarista na rede de seu apartamento, vítima de golpe de faca no pescoço. O cachorro com quem dividia a morada, tragicamente, também morreu dias depois. Um vazio para os grandes amigos, uma perda irreparável para o fazer teatral, um alívio para os inimigos e...um mistério para a polícia? Talvez não.

De cada entrevista que fizemos, em todas o clima pesou quando se tocou no assunto da morte dele. E opinião uníssona de todos os entrevistados: a polícia foi negligente. Talvez pela vida um tanto desregrada que Betho levava, talvez por ser homossexual, talvez por não medir palavras e com isso angariar um sem-número de desafetos, talvez por arranjar problemas com a própria polícia, o assassinato de Betho foi pouco investigado. Em seu depoimento Silvio Margarido disse, com extremo rancor, que para a polícia foi muito mais fácil culpar o próprio Betho por sua morte, tendo em vista o "tipo de vida que levava". Muitos de seus amigos investigaram por conta própria o ocorrido, se expondo a um risco desnecessário. Porque na cabeça deles, nada justificaria aquela morte, independente de qualquer coisa que Betho fizesse. Porque por mais polêmico que fosse, por mais brigão e implicante que pudesse parecer, Betho era mais uma apaixonado pela arte e fazia disso sua própria vida.

Alguém nas entrevistas chegou a dizer que sabia que o Betho sofrera uma ameaça de morte de um outro alguém muito importante da época, informação que não será reproduzida por mera responsabilidade jurídica. Até porque o intuito do documentário não é investigar o assassino e fazer justiça com as próprias mãos; queremos apenas recuperar uma memória. Uma memória feita de paixão e sonhos.

Ficamos, então, nesse 1º de setembro, com a lembrança do que nos disse Fátima Almeida em sua entrevista: o assassinato de Betho assemelha-se ao sacrifício. E é uma tragédia porque a vida dele era assim: uma grande tragédia. Uma tragédia a la Pasolini.


Fotos: acervo do Patrimônio Histórico Estadual